TEMÁRIO

EIXOS ESTRATÉGICOS DO 60º COBEM

O 60º Cobem – Ciência, cuidado e resiliência na Educação Médica reveste-se de um simbolismo que o torna um congresso particularmente especial.

Primeiro porque nesta edição celebramos os 60 anos da Abem, uma entidade que marca indelevelmente a história de educação médica brasileira. Resgatar o valor dessa entidade, nascida do genuíno desejo de construir uma formação médica capaz de responder aos anseios de uma sociedade e que evidenciou gerações de educadores comprometidos com esta missão, é algo que torna único este congresso.

Também o fato de representarmos a 60ª edição de um evento que vem atravessando décadas, passando por diferentes momentos da nossa história política e por inúmeros desafios no campo da educação médica nos impinge o desafio e a responsabilidade de um congresso à altura desta história.

Por fim, celebraremos o reencontro de um distanciamento de dois anos imposto pela pandemia da Covid-19, cuja passagem serviu para mostrar o valor da ciência, do SUS, da solidariedade e da empatia. Essa celebração se dará em Foz do Iguaçu, cidade que retrata a comunhão de povos que chamam por integração em meio à exuberância de uma natureza extraordinária.

Por todas essas razões não poderíamos deixar de ousar, de transformar o 60º Cobem em uma experiência inesquecível para você.

Diferente dos anos anteriores, as atividades do evento não serão organizadas em eixos temáticos e sim em três grandes eixos estratégicos: VIVÊNCIAS; EXPERIÊNCIAS; e EVIDÊNCIAS.

Os temas que tratam da responsabilidade social das escolas médicas, da emergência das humanidades e diversidades em nosso meio, dos desafios da interiorização e da internacionalização do ensino médico, dos processos avaliativos e da inovação permanecem presentes na programação.

Do latim viventia, que significa viver, nas atividades do eixo VIVÊNCIAS queremos que você possa experimentar estas temáticas por meio de momentos que caracterizem verdadeiras experiências de vida; compartilhadas com colegas que, como você, militam na educação médica.
As atividades que proporcionarão aos congressistas a possibilidade de discutir e compartilhar o conhecimento ou aprendizado obtido através da prática, da experiência de vida, ou do trabalho sistemático, aprimorado com o passar do tempo, estarão no eixo EXPERIÊNCIAS.

E o compartilhamento e debate das informações provindas da produção científica sobre educação médica comporá as atividades do eixo EVIDÊNCIAS.

Deste modo, pretendemos que o 60º Cobem atenda às diferentes expectativas da nossa igualmente diversa comunidade.

Venha viver, conhecer e partilhar toda a riqueza da educação médica brasileira no 60º Cobem.

EMENTAS DOS EIXOS

Eixo I – Responsabilidade social da escola médica

O século XXI exige das escolas médicas um conjunto mais amplo de compromissos sociais, bem como evidências dos impactos de sua atuação sobre a saúde das pessoas. Escolas socialmente responsáveis estão comprometidas com o bem estar social e trabalham em colaboração com governos, organizações de saúde e o público para impactar positivamente a saúde das pessoas. Assim, novos parâmetros de excelência que evidenciem um trabalho relevante, de alta qualidade, equitativo e de baixo custo são necessários. Algumas áreas que expressam consensos para ação na perspectiva da responsabilidade social incluem a antecipação das necessidades sociais em saúde e o estabelecimento de parcerias entre os atores do processo, uma formação alinhada às necessidades das comunidades nas quais atuam, uma governança responsiva e responsável na escola médica, a melhoria contínua da qualidade do ensino, pesquisa e prestação de serviços e a definição de mecanismos de acreditação, entre outros.
Debater os desafios da construção de escolas socialmente responsáveis, analisar as diretrizes curriculares sob esta perspectiva, apreender e debater o tema a partir das singularidades das nossas escolas e pensar nos temas clássicos – currículo, avaliação, gestão e pesquisa em termos de responsabilidade social são as linhas gerais sob as quais este eixo se desenvolverá.

Eixo II – Direitos humanos, humanidades e diversidades

É praticamente senso comum que o modelo biomédico sob o qual a Medicina ganhou considerável impulso não tem atendido às mudanças na sociedade. Ao colocar o ser humano, na totalidade da sua existência, como centro das atenções no campo da saúde, evidenciaram-se grandes lacunas no saber médico. Para que o médico compreenda o contexto de sua prática a escola deve cultivar qualidades humanas em seus estudantes, ao invés de sufocá-las, desenvolvendo saberes da Literatura, Antropologia, Filosofia, Ética, Psicologia, Artes, Sociologia, História e Política, no âmbito da Medicina. Sobretudo quando assumimos que a diversidade é um elemento crucial para o ensino superior e o valor educacional desta diversidade é alcançado pelo convívio entre pessoas cujas experiências de vida são diferentes umas das outras. Assim, promover a inclusão ajuda a diminuir desigualdades e melhorar os sistemas de saúde.
Num período em que pareceu haver um retrocesso em relação a estes aspectos, um eixo que permita aprofundar a análise das políticas de inclusão no ensino médico brasileiro, que dê evidência a grupos historicamente marginalizados na perspectiva do ensino médico, que possa divulgar a pesquisa nacional relativa ao tema e compartilhar experiências na área é fundamental.

Eixo III – Escola médica em movimento: da interiorização da formação à internacionalização

O déficit absoluto de médicos torna-se mais sentido ainda quando a distribuição desses profissionais ocorre de modo desigual. Pensar na responsabilidade social das escolas médicas em atender às políticas que favoreçam uma demografia médica capaz de responder às necessidades do sistema de saúde é desafiador. O Brasil tem adotado uma série de políticas que objetivam regular a formação de recursos humanos em saúde e mitigar as desigualdades provocadas pela má distribuição desses profissionais. Os obstáculos para levar a cabo este imperativo são provocadores.
Num outro sentido, a internacionalização da escola médica requer aprofundamentos, teorizações e problematizações para além do aspecto da mobilidade acadêmica. Compreendê-la como atividade transfronteiriça, entendida como mobilidade física, cooperação acadêmica e transferência de conhecimento no âmbito da educação, por governos e instituições impõem à escola médica desafios a serem superados, tais como o desenvolvimento de uma política de diálogo e de intercâmbio, o trabalho em redes, a existência de fundos de organismos multilaterais, a presença de uma cultura do mútuo reconhecimento das capacidades de cada país, a ampliação da mobilidade acadêmica e estudantil; a colaboração em nível interinstitucional no reconhecimento de créditos e duplo diploma, entre outros.
A programação deste eixo pretende debater e analisar, à luz das evidências, as políticas atuais de interiorização, os fatores que facilitam e dificultam esse processo, que desafios impõem os modelos curriculares, a infraestrutura das escolas e dos serviços de saúde e as perspectivas da formação docente e da pesquisa no interior, além de evidenciar no meio médico educacional brasileiro as políticas de idiomas das nossas escolas, os desafios relacionados à gestão para internacionalização, sobretudo nas escolas públicas, e as possibilidades para internacionalização a partir dos marcos regulatórios atuais.

Eixo IV – Diagnóstico, prevenção e enfrentamento do sofrimento na educação médica

A violência, em suas múltiplas faces, constitui preocupação mundial, pela alta prevalência e graves consequências quanto à morbimortalidade, além de impactos sociais e econômicos, segundo o Relatório Mundial Sobre Violência e Saúde, publicado em 2002 pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo Nelson Mandela no texto do preâmbulo deste Relatório, “Muitos dos que convivem com a violência dia após dia assumem que ela é parte intrínseca da condição humana, mas isto não é verdade. A violência pode ser evitada. As culturas violentas podem ser modificadas. Em meu próprio país e em todo o mundo, temos exemplos notáveis de como a violência tem sido combatida. Os governos, as comunidades e os indivíduos podem fazer a diferença”
O esforço para compreensão dos determinantes da violência nos espaços educacionais e a construção de estratégias de enfrentamento no âmbito da instituição é tarefa coletiva, delicada, por vezes desconfortável, permanente e urgente. Sua construção e abordagem precisa ser exercida, sobretudo, pelas escolas, junto a seus gestores, educadores e educandos.
Queremos conhecer, ouvir e ampliar junto à nossa comunidade acadêmica os caminhos para alcançar uma ambiência educacional que oportunize o melhor aprendizado a partir de uma cultura que valoriza a ciência, o cuidado e a resiliência.

Eixo V – Inovação educacional e uso de tecnologias

A necessidade da escola médica em formar para e, também, adaptar-se às mudanças do mundo contemporâneo, na velocidade com que ocorrem, impõe-lhe um duplo desafio: o da inovação e o da incorporação de tecnologias em seus processos formativos. O deslocamento dos tradicionais processos formativos para novos modelos, muitas vezes forçados por contingências externas inevitáveis, evidenciam a necessidade de aprofundar a pesquisa educacional, a busca por evidências e o compartilhamento de experiências nesse campo.
Processos sustentados de inovação tecnológica, o uso de recursos compatíveis e que propiciem práticas com altos padrões éticos, currículos que promovam e favoreçam a incorporação tecnológica, necessidades do desenvolvimento docente para atender a estas demandas e as novas tendências que desafiam inovações no ensino médico, num contexto marcado pela diversidade das escolas e realidades que compõe o cenário brasileiro requerem profundas reflexões.
Este eixo pretende promover na pauta de docentes, discentes, gestores e organizações envolvidas com o ensino médico análises que possam contribuir com esta temática.